domingo, 13 de maio de 2007

O "Colorido" da Dicção

O timbre das vozes humanas tem um carácter inconfundível; há vozes belas e harmoniosas, como também há estridentes ou veladas. Entretanto, as paixões imprimem ao timbre o seu colorido peculiar e, sob os reflexos dos estados da alma, as vozes tornam-se claras ou escuras, ásperas ou doces, brilhantes ou sombrias.
Pe. António Vieira (1608 - 1697), notável prosador e o mais conhecido orador religioso português, disse num dos seus sermões: “Todas as vozes dos animais tem sua significação; porque de um modo declaram a fome, doutro modo a ira, doutro modo a dor e assim outras paixões, apetites ou instintos, ainda que irracionais e brutos”. Como podem os que fazem uso da razão falar sem transmitir o que dizem?
É a inteligência e a sinceridade que fazem os grandes “coloristas”. Nada mais cansativo do que uma pessoa que fala sempre no mesmo tom. Se “colorirmos” as palavras com todas as cores do prisma com nossa voz, com certeza teremos um efeito agradável aos ouvidos dos ouvintes. A voz deve apresentar, além dos coloridos opostos como claro e escuro, todos os matizes intermediários, que vão do branco ao preto, do rosa ao vermelho, do lilás ao roxo...
As mudanças bruscas de cor encontram-se nos sentimentos contrários: amor e ódio, riso e choro, coragem e medo, crueldade e piedade, orgulho e humildade, desejo e renúncia, alegria e tristeza, etc... Muitos textos apresentam uma gradação de cor que, de suave, vai sucessivamente tornando-se mais intenso, mais vivo, até atingir o clímax.

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