quinta-feira, 28 de junho de 2007

Apontamentos sobre Significação Linguística

Ao propor a língua (um idioma ou um dialeto) como um sistema de signos, Saussure[1] assinalou a importância da questão do arbitrário do signo linguístico, mas deixou o mundo fora da sua análise. Antes dele, Frege já notara essa questão, postulando, porém, uma teoria semântica que não prescindia do “exterior” à língua, utilizando-se do suporte teórico da Filosofia e da Lógica nas suas análises. Benveniste[2], no caminho de Saussure, retoma a questão da natureza do signo linguístico para problematizá-la e propor outro esquema teórico.

Por outro lado, o filósofo alemão Gottlob Frege[3] escreve, em 1892, o artigo “Über Sinn und Bedeutung” – “Sobre o Sentido e a Referência”, onde nele concebe o sinal, ou o nome próprio, como a união de uma referência e um sentido. Para além dos seguintes componentes do sinal – o sentido e a referência, Frege introduz outro componente: a representação associada ao sinal. Diferentemente do sentido do sinal, que seria uma imagem apreendida colectivamente, portanto, de modo mais “objectivo”, a representação é inteiramente subjectiva.
Se a referência de um sinal é um objecto “sensorialmente” perceptível, a minha representação é uma imagem interna, emersa das lembranças de impressões sensíveis passadas e das actividades, internas e externas, que realizei. (...) A representação é subjectiva: a representação de um homem não é a mesma de outro. (...) A representação, por tal razão, difere essencialmente do sentido de um sinal, o qual pode ser a propriedade comum de muitos, e portanto, não é uma parte ou modo da mente individual (...)
Frege
in Lógica e Filosofia da Linguagem
Saussure
Concebe a língua como um sistema de signos que por si só dão conta da significação. Ao conceituar o que é signo, ele deixa marcada a distinção entre entidades psíquicas (que constituiriam o signo) e físicas (que lhe seriam estranhas). Os termos implicados no signo linguístico são ambos psíquicos e estão unidos, no nosso cérebro, por um vínculo de associação.

(...) O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho dos nossos sentidos (...) O signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces (...) Esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro.
Saussure
In “Natureza do signo linguístico”
Depois
de um século de discussão sobre o signo linguístico, pode-se recorrer aos escritos teóricos para que se possa continuar no difícil caminho da significação. É relevante e necessária a distinção entre sentido e referência. O caminho aberto deixado por Benveniste, considera a relação significado-significante necessária. Concordar com Frege e também com Benveniste que a fuga à regra se dá na conexão do signo com o seu referente, é acreditar que uma teoria semântica não pode prescindir das coisas as quais os signos designam, ou seja, das referências das coisas. Sem elas, não se consegue explicar a significação linguística.


[1] Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857 - Morges, 22 de fevereiro de 1913) foi um lingüista suíço cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da lingüística enquanto ciência e desencadearam o surgimento do estruturalismo. Além disso, o pensamento de Saussure estimulou muitos dos questionamentos que comparecem na lingüística do século XX.

[2] Émile Benveniste (1902, Cairo - 1976) foi um lingüista estruturalista francês, conhecido por seus estudos sobre as línguas indo-européias e pela expansão do paradigma lingüístico estabelecido por Ferdinand de Saussure

[3] Friedrich Ludwig Gottlob Frege (8 de Novembro de 1848, Wismar, Mecklenburg-Schwerin, Alemanha - 26 de Julho de 1925, Bad Kleinen, Mecklenburg-Vorpommern, Alemanha) foi um matemático, lógico e filósofo alemão. Trabalhando na fronteira entre a filosofia e a matemática, Frege foi o principal criador da lógica matemática moderna, sendo considerado, ao lado de Aristóteles, o maior lógico de todos os tempos.

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segunda-feira, 4 de junho de 2007

Um novo espectáculo



É um espectáculo para os obreiros anónimos dos Direitos Humanos e para os milhões de vítimas do seu incumprimento. Como na obra poética de Ângela Almeida, procuramos deixar aqui o nosso grito, a nossa indignação, estamos aqui para dizer que estamos de luto porque mataram a humanidade.
Pergunto-me: quem sou eu? Nasci num barco em alto mar, nasci em África, Ásia, Europa e América, sou apátrida, errante, miro-me no espelho da memória, olho-me e vejo uma mulher com marcas deixadas pelo tempo e pelos acontecimentos. Viajo continuamente em busca de um pedaço de terra e alimento-me dela, profundamente me enraízo nela, buscando a força e a seiva de que me nutro. Não tenho idade, procuro um lugar onde haja amor, paz, serenidade, alegria, onde não exista ódio nem rancor. É uma busca constante, por uma terra rodeada pelo mar cálido e sereno, repleta de cores, cheiros e sabores que ficam para sempre dentro de nós, onde se vive com simplicidade e liberdade.
Tenho a sabedoria apreendida da terra, da água, do fogo e do ar. Na minha pele correm todos os líquidos que ela absorve, todos os choros, todas as mortes. Sou andarilha, pertenço a todos os lados, os meus olhos absorvem já toda a glória e todas as misérias do Mundo
Posso ser alegre e bem disposta, apaziguar os corações solitários, carentes de afecto. Posso deixar um rasto de amor, paz, felicidade, conforto interior. Posso partir, ficar, partir para não mais voltar, sobreviver, lutar, rasgar os horizontes, cumprir destinos inconformados com a pequenez desse mundo em transformação. Posso semear grãos para que cresçam, floresçam, se desenvolvam e reproduzam para dar lugar à terra que busco.
Vim para indicar o caminho da verdade interior. O amor corre-me nas veias. Por isso, sofro todas as dores e rio todas as alegrias. Sou cigana, sacerdotisa do tempo, sou desterrada, sou uma voz, um grito, sou mulher!
Um encontro feliz dos “ditirambus” com a beleza da poesia insular e ao mesmo tempo universal de Ângela - da poesia com a dramaturgia: a arte de bem dizer.


Ficha Técnica

Texto original
Ângela Almeida

Adaptação e Encenação
Onivaldo Dutra

Elenco
Manuela Gomes, Lurdes Castanheira, Cátia Correia e Céu Neves

Cenário, Banda Sonora, Desenho de Luz
Onivaldo Dutra

Figurinos e Adereços
Céu Neves

Operador de Som
António Valente
Operador de Luz
Pedro Araújo

Art Design
J. Canadinhas / Marco Mascarenhas

Realização
Ditirambus – Associação Cultural e Pesquisa Teatral.
Local
Teatro Ibérico – Rua de Xabregas, 54 – Beato – Lisboa.

Reservas
218128528 / 919097077 / 218682531

Classificação M/12